quinta-feira, 23 de abril de 2009

Do céu vai descer uma estrela

A fusão nuclear domesticará a reacção que ocorre nas estrelas. Empresas portuguesas poderão participar na construção de algumas fases do projecto internacional ITER.



















“Só em 2035 se verá se a fusão é viável. E não produzirá electricidade antes de 2060, afimou Norbert Holtkamp, director adjunto do IFER
Imagine-se um "donut" gigante, feito em metal, cujo centro tem o volume equivalente a uma piscina olímpica (2000 metros cúbicos). Em vez de água contém uma mistura de gases a muito alta temperatura (100 milhões de graus centígrados). Como mantê-la no lugar? Nenhum material fabricado pelo homem resiste nestas condições. A única solução é o anel metálico gerar um campo magnético de alta intensidade (100 mil vezes superior ao campo magnético terrestre) que aprisiona o plasma.

Domesticar esta reacção que é a que faz brilhar as estrelas, usando a energia da fusão nuclear para produzir electricidade, é o objectivo do programa internacional ITER, ao qual Portugal está associado. São 12 mil milhões de euros (o equivalente a 10 pontes Chelas-Barreiro) para construir até 2027 um protótipo funcional. Envolve a União Europeia, Suíça, EUA, Rússia, Japão, Coreia, China e Índia. Uma instalação experimental está já em construção no Sul de França, a 100 km de Marselha.

Esta semana realizaram-se dois seminários em Lisboa, no Instituto Superior Técnico, por iniciativa do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear. Aí se fez o balanço do ITER e se discutiram as perspectivas de a indústria e os investigadores portugueses se associarem ao projecto.

Norbert Holtkamp, director-adjunto do ITER, fez para o Expresso o ponto da situação. "Do ponto de vista da ciência pura e dura não há nenhuma dificuldade. Os fenómenos com que lidamos estão bem estudados. Há é dificuldades tecnológicas para conseguir lidar com volumes tão grandes de plasma". Daí que a instalação de Caderache não tenha como objectivo a produção de electricidade. "Não porque a energia gerada não o permitisse, mas porque os períodos de funcionamento serão muito curtos: da ordem de uma hora, o máximo", já que o objectivo é testar sistemas e materiais e ver como se comportam numa situação próxima da real.

Entre 2020 e 2025 ficar-se-á a saber se a fusão nuclear é viável. Para chegar a uma central que produza, efectivamente, electricidade, "nunca antes de 2060". Mas tudo depende da pressão dos preços do petróleo e das necessidades mundiais de energia. Em 1998, com o barril a 30 dólares, os EUA praticamente desactivaram, na altura, o seu programa de fusão nuclear.

Do ponto de vista da segurança, Holtkamp compara uma central destas a uma lâmpada fluorescente: caso se parta, a reacção cessa sozinha. Os resíduos radioactivos são de curta duração (cem anos), ao contrário dos das centrais nucleares de fissão do urânio, alguns dos quais ficam 'quentes' durante milhares de anos, o que levanta o problema do seu armazenamento a longo prazo. Os custos, esses, dependem, fundamentalmente, da generalização da produção em série. Comparando uma central de fusão experimental e uma central nuclear clássica com uma potência de 1,5 GW, a relação de custos deverá ser de cinco para três "mas a tendência será para baixar, à medida que a fabricação se torne mais frequente".

Ainda que Portugal não tenha experiência na área do nuclear, empresas portuguesas poderão participar na construção de algumas fases do ITER. Esta é a convicção de Carlos Varandas, responsável do IFPN, associado à gestão do acordo europeu para o desenvolvimento da fusão.

Rui Cardoso
Domingo, 6 de Abril de 2008, Jornal Expresso




ITER em latim significa o caminho, e quem sabe se este projecto não será o caminho para a produção de uma energia limpa, de uma forma relativamente segura e rentável. Na minha opinião este é um projecto muito promissor e pode mesmo vir a ser a energia do futuro.
Espero que gostem e fico à espera dos vossos posts.


Diana Lobo - Grupo 2



2 comentários:

Rui Vítor Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Vítor Costa disse...

Muito interessante a notícia. Em 2035 terás a minha idade (imagina!). Espero que se assista, mais ano menos ano, à fusão nuclear.
O título do artigo/post é muito feliz. Parecido com o título de um extraordinário filme de Capra "Do céu caiu uma estrela". Em inglês: It's a wonderful life (1946) em http://www.imdb.com/title/tt0038650/